terça-feira
MYSTIC RIVER
Conseguida uma trama que nos vai conduzindo enganados até ao fim. Sem brancas, absorve-nos em permanência do primeiro ao último minuto. De mestre! Tema actual, do miúdo abusado, no qual o trauma em vez de se ir atenuando vai crescendo com ele à medida que cresce em tamanho e em idade, até à vingança descontrolada. Não foi à procura, mas apareceu-lhe à frente. E teve que ser, senão asfixiava.
Quantos de nós vivemos com a raiva e a frustação a crescer dentro de nós como um monstro?? Uns controlam-no, outros não.
Estamos todos lá. Para além deste miúdo injustiçado que cresce em agonia; a esposa/mãe, compreensiva, carinhosa, e cumplice, até um dia...; o grupo de jovens amigos inseparáveis para a vida, que a vida separa; a filha adolescente que esconde o primeiro namorado do pai superprotector que bebe com o olhar todos os passos da filha.
PAI, ai este Pai! É neste que se centra toda a dor do mundo, toda a tensão e pulsar do filme. O exagero contido de Sean Penn bem lhe valeu o óscar. Nenhum exagero pode haver no exagero da dor que rasga por dentro, perante o desaparecimento súbito e brutal de um filho. Contido, porém, pois nenhum esgar e grito humano é suficiente para ilustrar essa dor.
Estamos bem quando os nossos filhos estão bem e com esta me vou dormir.
Quantos de nós vivemos com a raiva e a frustação a crescer dentro de nós como um monstro?? Uns controlam-no, outros não.
Estamos todos lá. Para além deste miúdo injustiçado que cresce em agonia; a esposa/mãe, compreensiva, carinhosa, e cumplice, até um dia...; o grupo de jovens amigos inseparáveis para a vida, que a vida separa; a filha adolescente que esconde o primeiro namorado do pai superprotector que bebe com o olhar todos os passos da filha.
PAI, ai este Pai! É neste que se centra toda a dor do mundo, toda a tensão e pulsar do filme. O exagero contido de Sean Penn bem lhe valeu o óscar. Nenhum exagero pode haver no exagero da dor que rasga por dentro, perante o desaparecimento súbito e brutal de um filho. Contido, porém, pois nenhum esgar e grito humano é suficiente para ilustrar essa dor.
Estamos bem quando os nossos filhos estão bem e com esta me vou dormir.
domingo
ALGUÉM TEM QUE CEDER

Amor e humor depois dos cinquenta. Para quem não saiba, é possível. De contornos românticos, intenso como na adolescência e carregado de incertezas. Pelo menos em filme. Durante aquelas duas horas, em que ele se desenrola, convence-nos que vale a pena deixar uma nesga da porta aberta a surpresas.
O protagonista vai tendo vários ataques cardiacos ao longo do filme, uns porque a idade é propícia, outros causados pelo stress da paixão. Surpreendido com a sua fragilidade humana e com a morte que pode chegar, vai deixando cair a fortaleza que toda a vida o defendeu de devaneios de entrega a uma só companheira, em privilégio de aventuras passageiras, sempre com carninha jovem que, também, foge a compromissos.
Os clichés do nosso imaginário estão todos lá: magnífica casa na borda da areia com o mar ao alcance de uma corrida; dramaturga de sucesso que se autobigrafa e num instante vê a peça subir à Brodway; homem charmoso , séquito e limousine às ordens, tudo resultado de um negócio na área da discografia, depois de abandonar outros tantos sem rentabilidade; mulher madura disputada por 2 homens, este bem sucedido sexaganário e um jovem médico e maravilhoso trintão; mãe e filha amigas, companheiras e confidentes. Tudo o que você poderia desejar. Ali está no grande écran, com ironia q.b., dispõe bem, muito bem, deixa que larguemos 2 ou 3 gargalhadas leves e descontraídas.
Era o que eu pedia para esse fim de tarde: A confirmação que o Amor e a Ternura não têm idade para acontecer, uma pastilha para a auto-estima feminina, tudo isto bem embrulhado em tons "clean" pastel e azul mar. Acaba bem. O verdadeiro amor vence e a sensação de bem estar dura o tempo suficiente para justificar o investimento feito nesta sessão de terapia vespertina.
terça-feira
RAPARIGA COM BRINCO DE PÉROLA
As personagens saltam de um quadro pintado em mil tons de escuridade luminosa ou as cenas desenrolam-se dentro desse quadro, numa suave manifestação da passagem do tempo??
A ambiencia perfeita para que nos deixemos transportar e emocionar com a Miséria alheia. A miséria da fome que entra em casa do pintor, enquanto, ainda, um ilustre desconhecido, a miséria do despojo total de uma serviçal próxima da “coisa “ humana e a miséria da dor fina e íntima da esposa que se sente traída.
Ao longo do filme aquela pedra feita de trabalho e abnegação vai acordando e revela a capacidade de entender e de se maravilhar com o obra do pintor, sendo-lhe dada, inclusive, a prerrogativa de opinar e com ele partilhar a manufactura do arco-íris da paleta de cores, que estão na génese dos seus quadros, transpirando a erotismo, tanto prazer lhe dá tal preparo.
Da admiração mútua nasce um amor contido, só de olhares, só sonhado. Há nisso traição?? E na intimidade estática da bela a ser pintada, debruada pela luz coada da janela?? De tanto a olhar e medir e tracejar o pintor possui-a, talvez. A mulher sente-se ultrajada e expulsa-a, pois não há pior rival do que a amante instalada no pensamento, enquanto não se consome em amor carnal.
Ela lá vai e ele deixa-a ir, mas presenteia-a com as pérolas com que pousou para ele.
No ambiente um pouco sórdido em que se desenrola a trama numa Holanda seiscentista, com um Johannes Vermeer a precisar de banho, personagens carregadas e um mercado de cores agressivas , como a vida o é a maior parte das vezes, o contraste de luz e candura que as pérolas representam será a esperança que uma gota, uma gota luminosa pode trazer?
Tanto no quadro como no filme esse toque de génio irradia para nos minar o pensamento:
MESMO QUANDO TUDO É PESADO E NEGRO À NOSSA VOLTA HÁ ALGURES UMA PÉROLA QUE NOS PODE DEVOLVER UMA NESGA DE LUZ E ESPERANÇA. O MAIS DIFICIL É MESMO DESCOBRI-LA!
A ambiencia perfeita para que nos deixemos transportar e emocionar com a Miséria alheia. A miséria da fome que entra em casa do pintor, enquanto, ainda, um ilustre desconhecido, a miséria do despojo total de uma serviçal próxima da “coisa “ humana e a miséria da dor fina e íntima da esposa que se sente traída.
Ao longo do filme aquela pedra feita de trabalho e abnegação vai acordando e revela a capacidade de entender e de se maravilhar com o obra do pintor, sendo-lhe dada, inclusive, a prerrogativa de opinar e com ele partilhar a manufactura do arco-íris da paleta de cores, que estão na génese dos seus quadros, transpirando a erotismo, tanto prazer lhe dá tal preparo.
Da admiração mútua nasce um amor contido, só de olhares, só sonhado. Há nisso traição?? E na intimidade estática da bela a ser pintada, debruada pela luz coada da janela?? De tanto a olhar e medir e tracejar o pintor possui-a, talvez. A mulher sente-se ultrajada e expulsa-a, pois não há pior rival do que a amante instalada no pensamento, enquanto não se consome em amor carnal.
Ela lá vai e ele deixa-a ir, mas presenteia-a com as pérolas com que pousou para ele.
No ambiente um pouco sórdido em que se desenrola a trama numa Holanda seiscentista, com um Johannes Vermeer a precisar de banho, personagens carregadas e um mercado de cores agressivas , como a vida o é a maior parte das vezes, o contraste de luz e candura que as pérolas representam será a esperança que uma gota, uma gota luminosa pode trazer?
Tanto no quadro como no filme esse toque de génio irradia para nos minar o pensamento:
MESMO QUANDO TUDO É PESADO E NEGRO À NOSSA VOLTA HÁ ALGURES UMA PÉROLA QUE NOS PODE DEVOLVER UMA NESGA DE LUZ E ESPERANÇA. O MAIS DIFICIL É MESMO DESCOBRI-LA!